sábado, 14 de maio de 2016

W A V E

  Havia diante de mim, um enorme altar, adornado de cristais coloridos e com escrituras – que não consegui distinguir – talhadas em relevo.

  - Esta é a entrada, meu bom senhor libriano – Disse uma mulherzinha que surgiu por debaixo de minhas pernas trêmulas. Tinha uma cara simpática e saudosista.
  - Que diabos está fazendo? De onde você saiu?!
  - Vá, meu bom senhor libriano! Entre no altar do castelo! Todas as perguntas serão respondidas lá dentro! – O olhar daquela criaturinha era estranho e me provocava um certo desconforto. Tinha todos os membros reduzidos, exceto os olhos, grandes bolas de bilhar, que, entre um segundo e outro, mudavam de cor.


  - Eu não vou porra nenhuma! Como é que eu vim parar aqui?! – Levantei a criatura pelo colarinho. Ela começou a emitir uma espécie de gemido muito sentimental, como o choro de um filhote de cão.


   Senti que minhas mãos vibravam por dentro, e uma repentina sensação de vertigem tomou-me por completo. A criaturinha começou a tornar-se maior a medida que eu cambaleava para os lados – ou seria eu que me tornara pequeno? -. 

   - ENTRE DENTRO DO ALTAR, MEU BOM SENHOR LIBRIANO! – Exclamou a fera, agora com proporções gigantescas. Seus olhos emitiam ondas coloridas que se cruzavam no ar e rodopiavam, feito uma fita de DNA dançante como duas borboletas num jardim.
Tomado pelo medo de ser pisoteado e o receio de sofrer algum mal, corri até o maldito altar que jazia imponente sob minha retaguarda. Quanto mais eu me aproximava, mais as formas começavam a se distorcer, transformando-se em outras completamente diferentes – era como se tudo estivesse derretendo -. A medida que eu caminhava, as sensações térmicas mudavam quase que simultaneamente. Sentia em meu corpo uma mescla absurda de frio e calor, uma mistura perversa que fazia meus ossos tremerem.

  Você está pronto para descobrir os segredos secretos que estão no altar?
As letras não tinham forma fixa, mas toda vez em que eu tentava ler, era isso que minha mente processava, ainda que eu só enxergasse símbolos desconhecidos. O altar era na verdade um grande poço, cujo o fundo parecia não existir.

  - Salte, meu bom senhor libriano! Salte para a verdade! – Exclamou a fera gigante, gargalhando de uma forma doentia. Saltei por medo. 

  O vento cortava meu corpo e rasgava meu peito – de forma literal -. As linhas que formavam meu tecido epitelial se romperam e esvoaçaram enquanto eu era um objeto em queda livre. Os fios finos do meu cabelo esticavam-se infinitamente para cima, enrolando-se uns aos outros e tomando formas grotescas e coloridas. Em segundos senti meu corpo despedaçar-se por completo. Eu só enxergava uma espécie de massa vermelha – Era como se eu estivesse mergulhado em uma gelatina -. Eu não tinha forma, não tinha corpo, simplesmente existia ali. Dentro de mim ardia uma estrela de fortuna e felicidade, sentia que eu era imortalmente alegre e que nada poderia me destruir.

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