quarta-feira, 22 de junho de 2016

L A Z A R U S

   Lazarus viveu a vida toda em um pequeno quarto 2x2. Era tão pequeno, que parecia ser uma extensão de seu corpo, aliás, era assim que ele pensava. Dava três passos para trás, três para frente, esquerda e direita, cruzava todas as fronteiras do próprio limite, mas não as conhecia. Lazarus caminhava em si mesmo, sem saber o que era caminhar. Imaginação e realidade não existiam para Lazarus, exceto quando um pequeno vulto passava por um mínimo buraco na parede. Lazarus olhava rapidamente, sem saber porque o fazia e logo em seguida, corria para longe. Ele não tinha consciência de seus atos, pobre Lazarus. Dava três passos para trás, três para frente, esquerda e direita, cruzava todas as fronteiras do próprio limite, mas não as conhecia.
   Não se sabe se Lazarus enxergava como nós, ora, se nunca tinha visto nada para lhe servir de objeto de associação, como é que ele veria alguma, Lazarus não conhecia quadrados, triângulos ou círculos. Não poderia diferenciar uma bola de futebol e uma bala de canhão, aliás, não se sabe nem se Lazarus via. Quando gritava, Lazarus corria do próprio som. E as vezes, gritava de volta, se respondendo na extensão de seu próprio eco. 
   Sem se reconhecer a vivendo dentro de si mesmo, Lazarus viajava entre todas as dimensões possíveis, dentro de seu quarto infinito. Não sabia que estava vivo e por isso, morrer não era nem um pouco assustador, aliás, não existia morrer. Lazarus era eterno. Um dia, Lazarus caiu no sono, e para ele, sonho e realidade era só uma extensão, ele não dormia e dormia, tudo na mesma direção. No sonho, Lazarus viu uma grande luz. Acordou em seguida e continuou ali, Deu três passos para trás, três para frente, esquerda e direita, cruzava todas as fronteiras do próprio limite, mas não as conhecia.
    Lazarus mal sabia o que estava acontecendo. E é assim a maioria do tempo, para Lazarus. 

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