Uma vez me pararam num cenário absurdo no final do tempo e me perguntaram se o copo estava quase cheio ou quase vazio. Eu fitei o pequeno copo preenchido parcialmente e logo procurei uma resposta. Nisto, uma jovem aranha se aproximou tímida e disse: Depende da tua sede.
Eu olhei a pequena aracnídea, sorri e fui surpreendido por um pequeno tronco, que falou: Eu acho que depende do dono do copo.
Eu olhava a cena maravilhado. De forma ligeira, comecei a anotar.
"O dono do copo é também o dono da água?" - perguntou a Aranha.
"Eu não sei! Mas ele é dono do copo e o copo é dono da água!" - respondeu o Tronquinho.
"Devemos consultar o dono do copo, o copo e a água para avaliarmos isso!" - sugeriu a Aranha, alongando as oito patas.
Os dois iniciaram uma busca e perguntaram ao dono do copo. O velhote cuspiu ao lado e disse: Depende de quanta sede eu tiver! e cuspiu mais uma vez.
O tronco se sentiu vitorioso, enquanto a Aranha ardia em desaprovação. Foram até o copo e perguntaram. O copo virou tristonho e respondeu: Depende de como você se sente no dia. As vezes tenho tudo e não me satisfaço. As vezes nada tenho, resta apenas o cansaço.
E então ao fim da jornada, foram e perguntaram a água, que era um gigantesco oceano sem fim. Com um giro atordoado, uma pequena gota saltou para perto dos dois, Aranha e Tronquinho. A pobrezinha, virou e disse baixinho:
"Tudo depende da sua vontade de se doar. Eu sou oceano, mas também sou gota."
Esta foi uma viagem que não protagonizei. Porque tudo depende da sua vontade de se doar.
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