quinta-feira, 14 de julho de 2016

D Á D I V A

   Descansando em um bar nos confins do universo, um pretensioso homem sentou-se ao meu lado e me contou uma história sobre um pretensioso homem, que jurou com um sorriso frouxo não ser ele.
   "Este homem recebeu a dádiva de saber a morte exata das pessoas" - contava entre um gole e outro. Assenti com a cabeça e esperei. O barman nos fitava.
   "Mas havia uma vil condição: Ele só saberia a hora da morte da pessoa, depois de uma hora de convivência!"
   "Não parece tão ruim. Como foi para ele?" - Perguntei, esperando uma explicação tão maluca quanto as roupas daquele homem. Combinava listras e xadrez.
   "Bem... Ele nunca mais se apaixonou. Decidiu dedicar o coração aos amores vagabundos que tem prazo de duração...!" - contou o homem, com um sorriso gigantesco nos lábios. Serviu-se de algo azul escuro e bebeu.
   "Dizem que os amores vagabundos são os melhores" - ousei. Ele me fitou.
   "É porque você ainda não viveu um. O amor começa com as promessa, cresce num papo, explode no sexo, e acaba no dia seguinte. O coração só rasteja e se alimenta dessas sobras"
   "Por que ele não mais se apaixonou?"
   "Depois da primeira morte, não aguentou a pressão..." 
   "Como morreu?" 
   " De amores"....
   O barman entrou em tempo sincronizado e nos serviu igualmente. Nos entreolhamos e viramos goela abaixo. Desceu queimando, como quando estamos apaixonados.

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