domingo, 17 de julho de 2016

S I N E S T T E S I A

   Estava tarde e eu não me lembro exatamente como estava o Céu. Pra ser exato, eu devia saber. Morei durante anos na lua, e era importante saber como estava o Céu. Eu me distraí perdido no céu dos seus olhos. 
   Um músico que se dizia andarilho, pousou sobre o parapeito de minha janela e disparou a tocar uma imensidão de canções. Eu acordei irritadiço. 
   "Que é que está fazendo aí, maluco?!" - esbravejei com a janela ainda fechada. Aquela música invadia meus ouvidos e pulsava dentro de mim. Ele se encorajou e continuou tocando. 
   "Terei de chamar as autoridades?!" - a cada ameaça, ele ganhava mais força. Isto era sua motivação. Foram cinco segundos de contemplação e o músico parou. Bateu com a ponta da palheta no vidro embaçado da janela.
   "´É ótimo o que você canta..." - comentei sincero. Ele bateu novamente no vidro.  Eu abri. 
   "Já viajou com uma canção?" - Ele sorriu com os dentes amarelos. Eu nunca havia viajado com uma canção, nem em minhas viagens mais artísticas. 
   "Não" - respondi frustrado e reflexivo. Ele olhou para mim e saltou de costas. O músico despencou uma altura que nenhum músico que não fosse aquele sobreviveria. Em queda livre, tocava o violão remendado e inúmeros filetes de cores esvaiam das notas musicais que flutuavam ao lado dele. Explodiu no chão num disparar de baterias de fanfarra. 
    Acordei suado/soado. Aquele maldito músico havia tocado novamente no meu coração. Nunca se apaixone por um músico. A não ser que queira que cada batida do seu coração torne-se uma canção.

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