Estava tarde e eu não me lembro exatamente como estava o Céu. Pra ser exato, eu devia saber. Morei durante anos na lua, e era importante saber como estava o Céu. Eu me distraí perdido no céu dos seus olhos.
Um músico que se dizia andarilho, pousou sobre o parapeito de minha janela e disparou a tocar uma imensidão de canções. Eu acordei irritadiço.
"Que é que está fazendo aí, maluco?!" - esbravejei com a janela ainda fechada. Aquela música invadia meus ouvidos e pulsava dentro de mim. Ele se encorajou e continuou tocando.
"Terei de chamar as autoridades?!" - a cada ameaça, ele ganhava mais força. Isto era sua motivação. Foram cinco segundos de contemplação e o músico parou. Bateu com a ponta da palheta no vidro embaçado da janela.
"´É ótimo o que você canta..." - comentei sincero. Ele bateu novamente no vidro. Eu abri.
"Já viajou com uma canção?" - Ele sorriu com os dentes amarelos. Eu nunca havia viajado com uma canção, nem em minhas viagens mais artísticas.
"Não" - respondi frustrado e reflexivo. Ele olhou para mim e saltou de costas. O músico despencou uma altura que nenhum músico que não fosse aquele sobreviveria. Em queda livre, tocava o violão remendado e inúmeros filetes de cores esvaiam das notas musicais que flutuavam ao lado dele. Explodiu no chão num disparar de baterias de fanfarra.
Acordei suado/soado. Aquele maldito músico havia tocado novamente no meu coração. Nunca se apaixone por um músico. A não ser que queira que cada batida do seu coração torne-se uma canção.
"Nunca se apaixone por um músico." Imperativo!(E nem por atores... rs)
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